Amazônia cabana é inspiração de rapper Sumano em seu novo álbum “Nortes”

Foto/Reprodução: Sumano

O rapper Sumano lançou seu primeiro álbum de estúdio com a participação de artistas como Victor Xamã, Moraes, Roxy, Nill, Malu Guedelha, Karen Francis, Drin Esc, Nic Dias e Kurt Sutil. Suas rimas remetem às vivências na comunidade. O rapper é representante do cenário musical nortista do gênero no interior do território amazônico.

Sumano é uma expressão paraense usada para falar com seu compadre, amigo ou companheiro muito utilizada nos interiores paraenses, também dá nome ao vulgo de Euller Santos. Nascido na Vila Menino Deus, localizada em Igarapé-Miri, interior do estado do Pará, às margens do Rio Anapu, a qual traz marcado em sua pele em formato de tatuagem. 

O artista se interessou pelo mundo do Rap em 2016, quando teve contato com músicas dos Racionais MCS’s, Emicida e Don L, que são suas inspirações. Para ele, produzir rap na cidade de Igarape Mirim, tendo poucas referências, foi desafiador, pois o rap normalmente não é bem recepcionado como o tecnobrega, carimbó ou o melody, culturalmente inserido. 

Eu não só mudei o jogo, como mudei também as coisas que eu cantava. Eu cantava muito do que eu ouvia dos racionais e de outros artistas do Sudeste e do Norte. Quando eu assumo meu vulgo, passo a não ser qualquer Sumano mas, sim o Sumano MC, que canta rap. Assumo também a responsabilidade de cantar sobre o que eu vivia na comunidade e como eu vejo as pessoas e o sujeito de lá.

Foto/Reprodução: Sumano

Em Nortes, o rapper expressa uma profunda insatisfação em relação à maneira como a identidade das pessoas foi tratada ou ignorada. Tomando o protagonismo na sua narrativa e propósito, as influências externas não anulam e nem devem tropeçar nas visões que os Amazônidas tem de si mesmos.

Agregando a isso, Sumano é professor de geografia e compartilha seu conhecimento na sua comunidade, situada no nordeste do Pará, onde ministra aulas para crianças e adolescentes cujas experiências de vida se assemelham muito às suas. A escolha de sua profissão e local de trabalho não é aleatória, mas sim um testemunho de seu compromisso com a comunidade e com a juventude desse território. Na visão do rapper tudo que ele faz é um retorno para os seus.


Sobre o Álbum

O álbum Nortes agrega, em dez faixas, ritmos como trap, drill, r&b, boom bap e beats de funk. A faixa que abre o disco, "Reconectar", uma colaboração com Victor Xamã, apresenta Sumano cantando sobre as cobranças e o valor de sua raça. A letra forte expõe a reconexão do rapper com sua ancestralidade e a súplica da revolta, "Na veia corre rios desses estados, inclusive os que meus ancestrais cavaram. Maldito sangue derramado, força para não sermos mais escravizados".

Com a música Craque, primeiro single lançado desta nova era, trata questões como o racismo no futebol fazendo uma analogia da droga "crack" com o adjetivo "craque", usado para se referir a um bom jogador, “Vejo a CBF igual PM, caçando craque igual PM. Focada no gueto, olheiro de preto”. A música aborda a história de um jovem nortista mostrando dois lados do viver na periferia amazônica: uma mais agressiva e sobrevivente, e a outra questionando o que é esperado daqueles que vivem em territórios marginalizados como o seu.

Em Nortes, faixa que dá nome ao álbum, nasce a reivindicação do espírito cabano rebelado. Sumano atenta para a força que os amazônidas terão ao descobrirem quem são. Uma retomada da narrativa histórica. “Não mais vão me calar, vão me conter, Kunta Kinte”, rima Victor Xamã em referência a Kinte guerreiro heróico que luta contra as amarras do preconceito. Em Lobos e Leões, aborda o foco necessário para não se tornar apenas mais um. Já em É o Jogo, uma faixa com um ritmo mais melódico e em parceria com Nill e Malu Guedelha, os versos exploram o romantismo da vivência periférica.  A faixa love song, Nossa cor com participação de Karen Francis canta o romantismo do amor preto.

Meus versos trazem à tona um questionamento importante sobre nós, pessoas negras: por que sempre esperam que a gente seja a revolução ou a revolta? Às vezes, não queremos ser isso; queremos, na verdade, viver, curtir uma tarde de sol no rio ou jogar futebol com nossos amigos sem ter que pensar em revolta.
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